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Medicamentos e álcool, uma combinação que merece atenção

Imagem notícia Medicamentos e álcool, uma combinação que merece atenção

Interação medicamentosa é um evento clínico resultante da resposta do paciente a um fármaco, modificada por alimentos, suplementos nutricionais, fatores ambientais ou outros fármacos. Essa mudança pode aumentar ou diminuir o efeito do fármaco, causando toxicidade ou falha terapêutica.

 

O uso de bebidas alcoólicas, documentado desde épocas muito remotas e em diferentes civilizações, teve seu consumo aumentado no século XIX e hoje ocorre em praticamente todas as sociedades. Por ser um agente modificador da resposta farmacológica, o álcool (etanol) deve sempre ser lembrado como um importante fator de interferência na condução de um tratamento.

 

O etanol é um depressor do sistema nervoso central. Mesmo em quantidades moderadas*, sua ingestão simultânea a outros depressores, como barbitúricos e benzodiazepínicos, pode potencializar as ações ansiolíticas e a desinibição comportamental. Além disso, o uso concomitante com antipsicóticos, sedativos, antidepressivos (principalmente os tricíclicos) e fármacos antiepilépticos pode promover sedação adicional.

 

O consumo de álcool, quando associado a outros fármacos, também pode:

    • Aumentar o risco de lesão hepática induzida pelo paracetamol e seus metabólitos tóxicos;
    • Aumentar a duração do potencial teratogênico da acitretina (usada no tratamento de psoríase) em mulheres por até dois meses, mesmo após o término do tratamento;
    • Induzir a tolerância aos efeitos da alfentanil (anestésico), exigindo doses mais elevadas do fármaco;
    • Aumentar a excreção da varfarina (anticoagulante), causando a eliminação mais rápida do fármaco e prejudicando sua eficácia;
    • Potencializar o risco de sangramento gastrointestinal induzido pela aspirina;
    • Aumentar a possibilidade de falha terapêutica em contraceptivos orais, o que pode acarretar em uma gravidez indesejável.

 

Com bloqueadores beta adrenérgicos (usados no tratamento de hipertensão), como o propranolol, o uso concomitante com etanol aumenta o risco de hipotensão arterial. Isso ocorre principalmente em indivíduos deficientes da aldeído desidrogenase, enzima envolvida em uma das etapas da biotransformação do álcool. Outros fármacos também são inibidores da mesma enzima, como é o caso do metronidazol, dissulfiram, antimicóticos, secnidazol, mebendazol e albendazol. Tais fármacos podem causar palpitações, taquicardia, náuseas e vômitos. Os efeitos indesejáveis causados pelos inibidores da aldeído desidrogenase estão relacionados com o acúmulo de acetaldeído no organismo, metabólito primário do álcool. Por causa desses efeitos, o metronidazol e o dissulfiram podem, inclusive, ser uma opção para o tratamento de pacientes com dependência alcóolica.

 

Os riscos de interação entre álcool e medicamentos podem ser agravados em pacientes com doenças crônicas, especialmente entre aqueles em uso de medicamentos que aumentam o risco de doenças hepáticas, de hemorragia gástrica ou de quedas. Mesmo em níveis moderados de consumo, a utilização de anti-inflamatórios não esteroidais, como o ibuprofeno, deve ser evitada, uma vez que pode ocorrer indução de úlceras gástricas ou intestinais. Além disso, o risco em longo prazo de hemorragia gástrica deve ser considerado.

 

Quando se fala na interação entre etanol e fármacos, a mais conhecida se refere à possibilidade de interferência nos efeitos dos antibióticos. Entretanto, as evidências científicas se limitam ao consumo elevado. Em altas doses, observa-se sobrecarga hídrica que, por sua vez, aumenta a filtração glomerular e a diurese, acelerando a excreção renal de fármacos ativos, o que pode levar à falha terapêutica. Em baixas doses, as evidências sobre os antibióticos comumente prescritos (penicilinas, cefalosporinas, tetraciclinas e macrólidos) não são claras sobre a exigência de abstinência alcóolica, mas o estado clínico do paciente tratado pode justificar essa abstinência. Por isso, essa é uma associação que sempre deve ser evitada pelo potencial prejuízo que pode causar. Deve-se sempre considerar que, na ciência, a ausência de evidência não implica a inexistência do fato, e o bom senso deve ser também um orientador de condutas.

 

Apesar da literatura mencionar que em doses moderadas é seguro o consumo de etanol com alguns fármacos, o CEMED recomenda a abstinência alcoólica no período de tratamento. Os riscos nunca devem ser descartados completamente, pois dependem da dose de álcool, sexo, peso corporal, idade, estado fisiológico e da sensibilidade de cada indivíduo. A utilização de bebidas alcoólicas sempre deve ser informada ao médico para avaliação de possíveis interações com o fármaco prescrito.

 

* ”quantidades moderadas” ou “níveis moderados” é um termo impreciso que define o padrão de consumo de quantidades de álcool que não causam, por si só, danos à saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo diário de no máximo dois drinques padrão para homens e um drinque padrão para mulheres, que contém 12 g de etanol, por exemplo, 375 mL de cerveja (álc. 3,5% vol.) ou 120 mL de vinho (álc. 12,5% vol.).

 

 

Fonte: https://cemedmg.wordpress.com

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