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Afinal, os suplementos alimentares são seguros?

Fonte: Veja | Autor: Redação
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Nos últimos anos, aumentou o uso de suplementos alimentares para manutenção de uma rotina saudável. No entanto, eles são seguros? Ou ainda, seu consumo é realmente benéfico? A dúvida vem após relatos de sérios problemas envolvendo o uso de suplementos. No entanto, especialistas ressaltam que produtos aprovados e vendidos por empresas respeitadas são quase sempre seguros, contato que as instruções do fabricante sejam seguidas.

Recentemente, o americano Jim McCants precisou de um transplante de fígado depois de ingerir cápsulas de chá verde por cerca de três meses. Outro caso relatado pelo Business Insider no ano passado revelou que um suplemento à base de erva de São João provocou o retorno de antiga tuberculose em uma gestante. Apesar disso, especialistas afirmam que casos como esses são extremamente incomuns.

“O problema é que a maioria das pessoas não o considera um remédio, porque não precisa de receita médica”, comentou Pouya Jamshidi, que tratou da gestante com tuberculose, ao Business Insider. A regulamentação inadequada leva muitas pessoas a consumirem mais doses do que o recomendado ou tomar vários suplementos ao mesmo tempo.

Regulamentação

Em diversos países da Europa e nos Estados Unidos, os suplementos são regulamentados como alimentos. Apenas em casos em que há comprovação dos riscos à saúde, eles são considerados inseguros. A FDA, agência responsável pelo controle de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, os define como produtos “destinados a agregar mais valor nutricional para (suplementar) a dieta”. 

Já no Brasil, onde até pouco tempo atrás se fazia o mesmo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou  uma regulamentação inédita dos suplementos alimentares. A medida, que vai definir os requisitos sanitários gerais, incluindo regras de composição, qualidade, segurança e rotulagem, busca permitir que os consumidores tenham acesso a produtos seguros e de qualidade. 

Dosagem

Em entrevista à BBC, Wayne Carter, da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, disse que as pessoas não devem supor que os suplementos não têm potencial para causar danos. Para Herbert Bonkovsky, da Escola de Medicina da Universidade Wake Forest, nos Estados Unidos, a quantidade diária ingerida é um fator determinante para o surgimento de problemas de saúde.

No caso do suplemento de chá verde, o perigo pode estar em um dos ingredientes: epigalocatequina-3-galato (EGCG), também chamado de catequinas. Um estudo recente realizado pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês) apontou que as catequinas presentes em bebidas a base de chá verde são “geralmente seguras”, porém se utilizadas como suplementos, doses a partir de 800 miligramas ao dia podem causar problemas de saúde.

Doses extras

Por parecerem “naturais”, os suplementos podem estimular uma superdosagem. “Acho que muitas vezes as pessoas pensam: ‘isso me faz bem, então se eu tomar mais, vai ser ainda melhor'”, comentou Carter. Mas há muitos riscos envolvidos. É verdade que, em muitos casos, o nosso organismo é capaz de eliminar o excesso de um suplemento consumido. No entanto, determinados elementos, como as catequinas, têm potencial tóxico, principalmente para o fígado, órgão responsável por processar as toxinas das substâncias que ingerimos. Isso pode prejudicar o funcionamento do corpo e desencadear doenças.

O metabolismo do indivíduo também pode determinar a forma como o suplemento age no organismo: algumas pessoas tem menor capacidade de metabolizar certas substâncias, o que pode interferir no modo como elas nos afetam.

A mesma cautela deve ser considerada ao escolher os suplementos, que não devem ser tomados ao mesmo tempo. A explicação: às vezes, os ingredientes podem interagir entre si de maneira que um acabe potencializando o efeito do outro. No caso das substâncias serem as mesmas, existe a possibilidade de que ocorra ingestão excessiva (dose extra) de um determinado nutriente.

 

Diferente atuação

Milhões de pessoas consomem o produto sem apresentar qualquer problema, mas alguns indivíduos podem reagir de maneira diferente: o suplemento de chá verde, por exemplo, provocou pelo menos 80 casos de lesões hepáticas (incluindo lassidão, icterícia e necessidade de transplante de fígado) ao redor do mundo, segundo informações da BBC. “O alerta em relação ao consumo de suplementos é que eles podem ser seguros para a população em geral, mas não para todos individualmente”, explicou Carter.

Essa realidade serve de alerta para quem costuma escolher os suplementos com base em relato de terceiros. Lembre-se: o que serve para um, não necessariamente serve para todos. Ou o que serve para todos, pode não servir para você. “O que ficou claro é que, com os suplementos, os benefícios nem sempre são óbvios para todas as pessoas, porque isso vai depender da formação de cada indivíduo e dos benefícios que podem obter ao consumir um nutriente adicional de algum tipo”, explicou Sam Jennings, que trabalha com fabricantes de suplementos, à BBC.

Por isso, antes de escolher o produto, verifique se foram realizados testes clínicos com uma parcela da população semelhante a sua (idade, sexo, etc). No caso de indivíduos com problemas cardíacos, vale a pena conferir as advertências e contraindicações. Outras recomendações importantes: confira se os fornecedores são reconhecidos (em caso positivo, isso geralmente indica que o produto passou por rigorosas checagens de segurança); não tome vários suplementos ao mesmo tempo e mantenha-se dentro da dosagem recomendada.

E os benefícios?

Os suplementos podem sim trazer benefícios para grupos que apresentam deficiência nutricional ou que, por algum motivo, necessitam de maiores dose de um nutriente específico. O serviço público de saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês), por exemplo, recomenda a utilização de suplementos de ácido fólico para mulheres que planejam ter filhos. No caso das grávidas, o produto deve ser usado até a 12ª semana de gravidez para prevenir malformação congênita do feto.

Para os bebês e crianças com idade entre um e quatro anos, é orientado o consumo da vitamina D — que também pode ser obtida através da alimentação. O mesmo é válido para indivíduos que não se expõem o suficiente à luz do sol — meio pelo qual o corpo humano produz a vitamina. A falta desse nutriente pode levar a deformações ósseas, como raquitismo, em crianças.

“Há 100 anos, a maioria das crianças tinha raquitismo em Londres. Isso foi praticamente erradicado com a prática de dar às crianças um suplemento de vitaminas”, ressaltou Benjamin Jacobs, pediatra do Royal National Orthopaedic Hospital, na Inglaterra, à BBC.

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